Hoje estou a despedir-me das minhas flores, fico na esperança de as encontrar viçosas quando regressar de novo daqui a três semanas. Deixo-as lindas e vou triste, espero que a rega não avarie e não as deixe morrer.Bate-lhes levemente a aragem do vento que hoje é
quase quieto e o leve movimento que lhes provoca, eu imagino que será a sua maneira também de se despedirem de mim. Ao meu lado tenho o meu gato Jimmy que não desiste de apanhar os pobres dos gafanhotos para me oferecer, depositando- os aos meus pés, o que me provoca um grandessísimo susto.
Espantalho
Trai-me o tempo
Velha história!
Trai-me o tempo e a memória!
Espantalho! De mim se afugenta a Vida
Estou num beco sem saída!
Olho e à minha volta
Andam nuvens ilusórias
Folhas mirradas voando
E eu espantada, perdida, solta
Histórias, inventando.
Na seara, já lá no fim
Sou espantalho de afugentar
Já fujo também de mim.
E para aqui fico solitária a olhar!?
Chapéu negro, lenço ao pescoço
Vozes de quem? Só eu ouço!
Casaca de remendos às cores
Garridas, a condizer com as flores!
Pregadas com martelo e prego
As flores que tenho ao peito
Entristecidas, não nego
Regadas com lágrimas,neste meu jeito!
Onde está o Sol luminoso?!
O outro?O do tempo verdadeiro?!
Ser espantalho é custoso!
Mas assim sou a tempo inteiro.