Hoje regressei da aldeia, e embora se viva um pouco melhor do que no meu tempo de
criança, ainda vejo algumas delas que me trazem á memória esse tempo distante. Dávamos valor ao pouco que se tinha, uma ída ao carrocel uma vez por ano, uma boneca de pernas de cana, uma bola feita de trapos, um lencinho bonito para deixar cair na roda, uma simples prata para enfeitar o livro da escola , um pedaço de pão com manteiga ao deitar, é tudo o que me lembro que me fazia feliz e me dava prazer.
Companheiros de infância
Pobreza, tão comum no nosso passado
Pobres, tínhamos tudo: as ruas e o adro!
Tudo era nosso, o sol, a chuva, o vento
Em demasia a pobreza e o céu estrelado
Só a brincadeira presente no pensamento.
Dormimos em colchão de palha
De folhas escamizadas de milho
Brincámos ao pião... à malha!
Descalços, ou com sapato sem atilho.
Comemos o pão que o diabo amassou!
Pedimos porta a porta o pão por Deus
Pouca era a roupa, o frio nos assaltou
E bem ligeiros, corrias TU, corria EU.
Crianças de piolho , sempre a aparecer
De ranho no nariz, sem importar
Contentes de poder saltar, correr
Na esperança do joelho vir a sarar.
Afectos, também nisso a pobreza!?
Só nos restava a inocência, a destreza
Na rua, uns com os outros brincávamos
E à noitinha pirilampos apanhávamos.
A pobreza era nossa desconhecida
Na boca, sempre um sorriso, uma cantiga.
Desafiámos o Destino com algum desembaraço,
Hoje somos meninos,apertados, no mesmo abraço.